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António Manuel Baptista |
A CIÊNCIA
NO GRANDE TEATRO
DO MUNDO
Página inicial
Pag 14
A invenção da filosofia natural
Tudo começou verdadeiramente com a invenção
da filosofia natural no
século VI a. C., com Tales de Mileto e os seus continuadores, no chamado período jónico da filosofia. Nesse momento solar da história da
humanidade o homem reconhece ser possível pensar racionalmente a natureza sem o
constante recurso a intervenção de divindades e mitos nas explicações e descrições
dos fenómenos e ocorrências naturais. A partir daqui começam a dar-se
desenvolvimentos que poderemos considerar
característicos da elaboração de um pensamento científico.
Primeiro,
muitas técnicas surgem na cópia livre e imaginativa de processos naturais, envolvendo de uma forma não sistemática a lenta formação
de princípios gerais através de regularidades observadas na natureza, o que caracteriza a atitude científica.
E nesta linha que se
exerce o magistério de influentes pensadores, continuadores
de Tales, como Anaximandro, que pensa na matéria como tendo origem numa
substância indeterminada e elabora os primeiros rudimentos, por certo muito
grosseiros, de uma teoria da evolução onde o homem foi, primeiro, um peixe.
Depois, Anaxímenes, o último dos milésios,
com a sua exploração das condensações e rarefacções, procura explicar
como tudo derivava de uma névoa primitiva. Com Heraclito de Éfeso, ainda um
jónico, ensaiam-se grandes generalizações,
como o seu principio da mudança, que dá, logicamente, a primazia
ao fogo, o agente da mudança por excelência, e a doutrina da tensão dos
opostos, que garante não só a permanência das coisas, como «explica» a sua existência e formação. Para a elaboração
do seu pensamento teórico inspira-se
em analogias que retira do arco e da flecha
e das cordas nas liras. Estão lançadas as bases de uma dialéctica que
vai permanecer e continuar nos nossos dias sob muitas formas.
Pag23
Aristóteles: o Liceu
Aristóteles frequenta a Academia durante uma vintena de
anos. Pensamos,
e não julgo que estejamos sós, que na história da elaboração do pensamento científico Aristóteles é o homem
mais influente de sempre. Pode dizer-se, com as devidas qualificações, é
claro, que tudo o que vem a seguir ou é uma
continuação do seu pensamento, uma sua correcção,
a resultante da sua crítica, ou a extensão do que pensou. Pode dizer-se
que não houve nenhum assunto por que não se interessasse e para o qual não contribuísse.
É
certo que muitas das suas conclusões estavam equivocadas, mas foi muitas vezes
da necessidade de serem analisadas e emendadas que resultaram profundos avanços em todos os campos. Assim, ao contrário do que muitas vezes se escreveu, a ciência
moderna, principalmente com Galileu,
não se fez contra Aristóteles, mas construiu-se, de acordo com os
melhores princípios científicos, pela crítica a Aristóteles, um dos primeiros que claramente disseram, a propósito
dos movimentos dos planetas: «Devemos, em parte, investigar por nós
mesmos e, em parte, aprender com outros
investigadores e, se aqueles que estudam estes assuntos formam uma
opinião contrária à que agora expusemos,
devemos respeitar, na verdade, as duas opiniões, mas seguir a mais rigorosa.» Mas chega, mais tarde, a
dizer o que ficou definitivamente
gravado para sempre no pórtico da ciência: «Deve dar-se mais crédito à observação do que às teorias, e a estas só até ao ponto em que são confirmadas pelos factos
observados.»
Pag 29
O
Museu de Alexandria
Estrato deve ter tido alguma influência na criação do
Museu em Alexandria no século Ш a. C. Foi tutor de
Filadelfo, filho de Ptolemeu, um general de Alexandre
Magno, que se fez coroar rei do Egipto. Foi nos
reinados de Ptolemeu e Filadelfo que foi criada, nos séculos ІV-Ш a. C., uma
instituição, pode dizer-se, de investigação e ensino dedicada
as Musas (donde o nome de Museu) e que teve o seu esplendor
nos dois primeiros séculos de existência, de Euclides a Aristarco, dois dos seus mais brilhantes colaboradores. O Museu deveria durar cerca de seiscentos anos.
Na célebre Biblioteca de Alexandria, associada ao Museu,
recolheu-se o corpus principal da literatura
hipocrática, assim como toda a obra de Aristóteles, que,
podemos dizer, constituíu a base da sua actividade. Essa
biblioteca tinha cerca de meio milhão de rolos. Farrington
recorda que podemos ler hoje todos os poemas de Homero num livro compacto,
enquanto eles poderiam ocupar 50 ou mais rolos.
Este primeiro Ptolemeu é uma figura de político
extremamente interessante. Na verdade, criou um estado
grego no Egipto e cimentou-o com uma nova religião,
preparada por dois especialistas, um teólogo grego e um
sacerdote egípcio, recolhendo elementos da tradição
religiosa dos dois povos. Criaram, assim, de raiz, podemos dizer, um novo deus,
Serápis, cuja imagem foi criada, um escultor famoso, Briaxis, e cujos atributos
descreveram. Ergueu um sumptuoso templo, o Serapião, para o seu culto e foram
utilizados muitos artifícios mecânicos desenvolvidos no Museu
para impressionarem os crentes com a sua mágica. O que é
certo é que o culto de Serapis floresceu durante séculos
e propagou-se por todo o mundo antigo. Este Ptolemeu sabia o que Coleridge queria dizer quando escreveu que «a crença implícita nos mistérios prepara as mentes para a aceitação implícita da tirania».
Pag 63
Sentido comum e aberrações ideológicas
Entre
aqueles que não tinham dúvidas de que o seu sentido comum era o único bom
senso, derivado de uma inquestionável fé ideológica, encontravam-se
os teóricos do marxismo-leninismo estalinista, como o filósofo Alexander Alexandrovitch Maximov, membro correspondente da
Academia de Ciências da URSS, do quadro do seu Instituto de Filosofia, que, em 1949,
condenava Einstein, Bohr e Heisenberg pelas suas «falsas interpretações
idealísticas da relatividade e da teoria quântica». Foram considerados traidores sociais, nem menos. Ele punha em guarda os seus apaniguados contra as
«acrobacias kantianas dos físicos
atómicos modernistas burgueses».
O mentor filosófico
de Lysenko, Prezent, acrescentava que «ninguém seria desnorteado pelas falsas
analogias dos morganistas relativamente ao átomo invisível e
ao gene invisível. Mais justa seria uma analogia entre o gene invisível e o
espírito invisível.»
Olhando agora para
as imagens de átomos a serem, literalmente, manipulados
nos microscópios de efeito túnel ou de forca atómica, ou então de genes a serem
enxertados em cromossomas hospedeiros, não podemos
deixar de pensar até onde pode levar-nos a abdicação do bom
senso e de um razoável — e justificado — cepticismo relativamente a quaisquer convicções ideológicas. Mas o mais grave foi que aqui não se tratou apenas de uma questão académica, mas de um conflito onde se cometeram series crimes contra a existência, liberdade e dignidade dos homens.
Pag 80
A
tentação da metafísica — a linguagem «técnica»
As
citações de Alain acentuam bem um dos fossos que separam filosofia
da ciência. Não quero dizer que reflectem a posição de todos os filósofos, mas afirmações como estas são testemunho de um modo de pensar tão
frequente que poderemos considerá-las quase típicas. Na verdade, apontam para uma «doença» a que os cientistas não imunes quando cedem a «tentação metafísica», ou
seja, a de que apenas pelo pensamento pode conhecer-se e explicar-se
tudo o que existe e se passa no mundo. Essa
«tentação metafísica» constitui um perigo
real para a sanidade de qualquer comunidade, pois leva a confundir os desejos com as possibilidades e estas
com as realidades em todos os campos. E este exercício não é inofensivo e
gratuito, como muitos apressadamente
consideram.
Quando defendemos que, na sociedade actual, todos os
cidadãos deveriam ser minimamente instruídos para
compreenderem o que é uma visão científica do mundo e entenderem o que ela
representa como saber estruturante de outros
saberes, embora com todas as suas limitações,
estamos a dizer que pensamos que, sem ela, os negócios públicos, as relações sociais — os tratos e
contratos —, serão mal interpretados
e até as relações pessoais colocadas numa base insegura, com consequentes e evidentes efeitos calamitosos
para a sociedade. Apresso-me a
acrescentar que não estamos a reduzir todas as mundovisões à visão científica do mundo e a derivar todos os valores
dos conhecimentos científicos. Estamos a afirmar que e uma estultícia ignorar as forças modeladoras de raiz científica
da sociedade e não procurar
compreender a natureza e forma de actuar dessas forças, repetimos, com todas as suas limitações.
Pag
87
A cultura científica
Lembro-me
de que nas décadas de 50 e 60 as actividades nucleares gozavam de um enorme
prestígio. Físicos eram os físicos nucleares. Ao
fim e ao cabo, os físicos tinham, durante a Segunda Guerra Mundial (guerra dos físicos, como já foi chamada),
mostrado todo o seu poder da forma mais evidente (lembremos apenas o radar e a
bomba nuclear),
demonstrando até ser possível, sem grande dificuldade, obliterar, se não a vida
na Terra, pelo menos aquilo a que se convencionou chamar a civilização. Uma tal imagem
está presente num célebre cartoon do New
Yorker Magazine de 1955 em que, numa recepção social, se vê uma senhora dizer: «Não
seja tão modesto, professor, estou certa de que tem qualquer coisa na manga que pode desfazer-nos em pedaços.» E lembro-me
de nessa altura alguém, antes de falar de assuntos relacionados com o novo poder, se desculpar,
dizendo, com ironia
evidente, «eu, que não sou físico, nem sequer físico nuclear [...] Lembro, pois, que aqui, agora
temente e tremente, poderia dizer «eu, que não
sou filósofo, nem sequer físico teórico...».
Pag 119
Ciência e matemática
A matemática
como fonte insuspeitada da ciência?
Recordemos uma conversa que se diz haverem tido Henri Poincaré e
Einstein. Dizia Einstein: «Cheguei a pensar em tirar o curso de matemática,
mas decidi não o fazer devido a sua falta de ligação com o mundo
real e a impossibilidade de dizer o que era importante.» Teria respondido Poincaré:
«Na minha juventude pensei seriamente em ser físico, mas
decidi contra porque em física é impossível dizer o que é verdadeiro.»
Dentro do que entendo por
ciência, com a sua obrigatória componente teórico-empírica, a matemática (vamos
chamar-lhe pura) não é uma ciência, o que não significa que muitos dos mais
ilustres matemáticos (recordemos só seis de entre os maiores de todos os
tempos, Arquimedes, Newton, Gauss e, de certa maneira mais
qualificada, Poincaré, Weyl e von Neumann) não tenham sido também
grandes cientistas. É que, quando falo de ciência, refiro-me
sempre ao que se deve chamar, newtonianamente, filosofia experimental. A
validade do conhecimento científico é garantida sempre e apenas pela
sua adequação aos resultados experimentais e de observação. Recuso-me
aqui a entrar na discussão de saber se existem várias «ciências»,
várias «espécies de conhecimentos». Utilizar as palavras sem as
definir antes conduz a labirintos por onde até as
bem-intencionadas discussões se entaramelam. Muitas destas discussões
merecem o comentário de Einstein: «Quando estudo
trabalhos filosóficos, tenho a sensação de que
estou a engolir mais do que aquilo que tenho na boca.»
Pag 160
Da poesia para a literatura de ficção
como da ciência básica para a tecnologia?
Distinguimos e passamos da ciência as aplicações da
ciência atravessando uma fronteira permeável nos dois
sentidos, o que permite a sua interfertilização. Pergunto-me, sem desejar
sugerir um modelo ou forçar analogias, se a poesia não está
para a literatura em geral como a ciência fundamental para
as aplicações? Se não estaremos a passar
da revelação de relações fundamentais entre as palavras, que permitem, subtilmente, uma comunhão de emoções e de
pensamentos entre os indivíduos, à
criação de situações existenciais reais entre os indivíduos no mundo, reveladas
pela literatura. Quando Arnold diz, como citámos anteriormente, que a «tarefa da poesia [é relacionar] os factos da vida com a experiencia humana», está no meu
caminho quando aponto para a poesia como
transportando essa experiência humana para as situações existenciais da sua aplicação, a que
se referem as obras de
ficção. Até no apelo que se faz para que a poesia seja relevante socialmente, como aconteceu
durante as experiências totalitárias do século xx, com os resultados que se conhecem, escuto ecos que
reverberam na actual conjuntura, onde os políticos reclamam constantemente uma ciência voltada para as
actividades produtivas. Estaremos muito longe de um apelo de uma poesia voltada apenas para a publicidade?
A literatura de ficção responde, possivelmente, em parte,
a exigências de um processo de evolução cultural, de
que não nos damos conta conscientemente, em acção
desde os antigos contadores de histórias. Com efeito, através da literatura
efectua-se o que corresponde à criação de inúmeras simulações
de situações existenciais, imaginadas, mas verosímeis.
Nesses outros mundos de ficção vivemos mil vidas que não teríamos tempo de,
fisicamente, viver. Multiplicamos, assim, culturalmente, as nossas experiências
vitais e podemos até trazer para a nossa existência quotidiana
os resultados destas experiências em novos modos
adaptados a diferentes condicionamentos físicos ou culturais.
Trata-se, verdadeiramente, de um processo educativo eminentemente prático, pois a evolução, com a sua selecção e adaptação, não é mais do que, em escala gigantesca, uma espantosa experiência educativa,
por vezes muito dolorosa e cruel, como pensava Darwin da selecção
natural, onde participam todos os seres, no ajustamento a nichos diversos, mais
ou menos acidentalmente criados. Os homens acrescentaram a
este processo uma importante componente cultural cujo voluntarismo a distingue da evolução natural, de que também participam.
Na poesia, e empregando a linguagem como depositária de sugestões
recolhidas num comércio milenário, os homens podem reconhecer, no encontro e desencontro das palavras, na concha em que se refugiaram ou nas suas dissonâncias próximas, indícios subitamente
reveladores de experiências desapercebidas, que os aproximam emocional e racionalmente dos outros homens.
Não devemos estranhar que
o filósofo e poeta alemão Novalis tenha
escrito: «A poesia é o autêntico real absoluto. Isto é o cerne da minha
filosofia. Quanto mais poético, mais verdadeiro.» Este é o pensamento que Luís
de Montalvor escolheu para epígrafe da colecção «Poesia» da Ática.
Pag 178
O professor universitário e a sua versão portuguesa
No contexto de uma certa missão de universidade surgiu a figura de
professor universitário com contornos bem definidos. É sempre um investigador
científico que chefia um grupo de assistentes, que inicia na investigação
científica, primeiro, e que, depois, serão os seus colaboradores
mais próximos, tendo todos eles, sem excepção, obrigações docentes. Durante
muito tempo aceitou-se, como dissemos, sem muita discussão, que, efectivamente,
a única actividade compatível com a de investigador científico
era a de docente universitário e que, reciprocamente, o docente universitário
deveria ser investigador. Esta figura chega até aos nossos
dias com este perfil bem marcado, tanto que a selecção do professor se fazia,
primariamente, pela apreciação do seu curriculum científico, ou seja, pelo valor das suas contribuições para o acrescentamento do conhecimento novo. Não se desprezando as suas qualidades de expositor, estas não eram julgadas com a mesma exigência, supondo-se, erroneamente muitas vezes, que os dotes de expositor estavam associados ao talento do criador científico. Assim, com as lições magistrais dos concursos para professor pretendia-se observar todos os registos do ofício: primeiro, a capacidade criativa e,
só depois, o talento de comunicador.
Acontece que onde estes requisitos foram exigentemente cumpridos
as universidades floresceram como centros de cultura e fontes de
desenvolvimento económico. Nos países, como o nosso, onde, por diversas razões
e motivos, não se estabeleceu uma atmosfera cultural apropriada
propícia à selecção de professores de acordo com a sua criatividade científica
aconteceu o declínio cultural e económico. As universidades, continuando a
figurar como centros oficialmente designados para a produção de dirigentes,
continuaram definhadas intelectualmente e deixaram de desempenhar a sua missão
inovadora e renovadora. Em sua substituição, criaram-se as
ficções da dignidade oficial do estatuto universitário,
onde se fingiam aceitar os valores culturais associados
à criatividade, surgindo centros de batota cultural que envenenaram
secularmente a nossa vida pública.
Pag 197
Para o leitor já prevenido, em forma de conclusão
Ciência,
um abrir mais os olhos do entendimento
Se quisesse resumir algo do que de mais importante quis transmitir, diria que o êxito indubitável da ciência consistiu em reconhecer que era possível um conhecimento diferente. E que esse conhecimento foi uma fonte de satisfação e de alegria, correndo as suas águas, tumultuosamente, por leitos que levaram quase espontaneamente a aplicações úteis que revolucionaram a vida individual e social (nem sempre no bom sentido). Surgia um conhecimento certificado, validado, por ser possível separar a teoria, com o seu discurso logicamente coerente
e, em diversas disciplinas, já matematicamente estruturado, da natureza (e do
homem) que está fora dela, criando instrumentos que permitiam
fazer a correspondência entre as construções mentais e aquilo a que vamos chamar, não ingenuamente, como tantos outros lhe chamaram, realidade
ingénua. Essa característica teórico-empírica é a pedra-de-toque
do conhecimento científico. Assim, nenhum nome melhor
para ciência do que o proposto na sua alvorada, apropriadamente, por Newton, filosofia experimental. Nem só a razão, nem só
a experiência, mas o resultado da sua fertilização
contínua e recíproca, envolvendo muitos indivíduos e instituições
e processos intelectuais e instrumentais diversos.
Contra todos os argumentos, mais ou menos subtis, que fazem infiltrar hesitações, qualificações, correcções e mesmo dúvidas, podemos
simplesmente invocar como prova irrefutável de que alcançámos um conhecimento
válido porque dele derivamos aplicações que funcionam. Tanto as «boas» como as «más» aplicações ai estão como evidência
irrefutável de que existem «verdades» científicas objectivas irrefutáveis.
Isto não significa que consideremos o fazer como o critério necessário
do saber, mas é suficiente. Embora esta prova pelas aplicações possa ser secundária, serve para
confirmar e garantir a fiabilidade de critérios mais fundamentais que actuaram
a montante.
Contra os que acreditam que a compreensão destrói
o maravilhoso das coisas, acontece exactamente o contrário. A experiência da «verdade» é algo de exultante por si mesma. A sua
comunicação, a sua partilha, apenas multiplica o seu poder, em vez de o
diminuir. Magicamente, cada onda de conhecimento
cresce para uma onda maior, na sua crista
cintilam novas facetas e daí nascem novos desafios. O homem realiza-se na sociedade e influencia-a.
É
claro que é difícil dizer precisamente onde começa e acaba a construção da ciência, pois a formulação de uma
hipótese, a proposta de um mecanismo,
uma nova observação, um resultado experimental inesperado, a detecção de qualquer erro, podem desencadear um movimento que, nas primeiras fases, pode ser
puramente especulativo, não se
distinguindo muito do tipo de reflexões filosóficas de uma razão que, fechada em si mesma, consigo mesma se
contenta. Se o caminho especulativo
percorrido é muito importante, só quando chegamos à interface com a realidade da natureza, experimentada ou observada,
que certifica ou valida as conclusões, é que podemos dizer se entrámos no campo
da prova científica, com todas as suas exigências
Em rigor, estamos com os que não conseguem
formalizar as regras bem definidas a serem seguidas em todos
os casos para garantirem um resultado fidedigno, ou seja, um método científico,
para conseguirem o encontro harmonioso do que pensam com o
que acontece na natureza. No entanto, se não existe
absolutamente o método científico, existem regras, critérios,
práticas e todo um conjunto de mecanismos: revistas, conferências, seminários, etc., que tendem a corrigir as insuficiências sempre presentes
e permitem a validação ou certificação actual dos resultados, na conjugação de pensamento e experiencia como garantia da fiabilidade dos
resultados. O chamado método científico, afinal, reduz-se a um conjunto variado
de procedimentos diversos com os quais se consegue, em maior ou menor grau. A
correspondência teórico-empírica.
(…)
O cepticismo característico dos cientistas é uma das suas grandes
forças, conseguindo, pela sua postura crítica, reduzir as imperfeições com que
as «verdades» são conhecidas.
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